O Sangue Profano

O Sangue Profano
Meu Sangue profano, prove-o...

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

(Livre soneto iluminista)

Era a muito tempo em que o tempo era
Um tempo em que a tempo se desespera
Um temperamento que jamais tempera
Pois não há tempo em que o tempo cancela

Hoje que agora é dia e noite
Antes fora apenas noite e não dia
Hoje que há luz na noite
Antes apenas noite no dia

A muito tempo atrás não via a rua
E a rua nunca me via, me escondia
A muito tempo atrás não vinha à rua

Hoje vou à rua todo dia
E toda rua que não me via pelas ruas
Hoje, durante a noite nos vemos todo dia

(Aranha como gente e gente como aranha)

A aranha se olhou no espelho
Dançou sobre a vidraça
Patinou sobre o liso vidro
Pensando ser outra aranha
Mas quando percebeu que era a mesma
De imediato deixou de ser aranha
Tornou-se gente, gente como a gente
Que quer sempre ser aranha
Não usou teia como a gente
Usou cabeça como aranha


E nós como a gente
Que arranha muita aranha
Que pensa como a gente
E a gente sempre ganha
Pisa que nem gente
Que nem sente a aranha
A aranha simplesmente
Quis olhar como a gente
Dessa gente que se estranha
E a aranha viu a gente
Gente como aranha

Aranha sente como a gente
E a gente não se acanha
Quando pisa como gente
Nessa gente que é aranha
Sem saber que é a gente
Interiormente que apanha
Da aranha que diferentemente
Não pisa, só arranha
A aranha simplesmente
Lança teia muita estranha
E acerta nossa mente
Que é de gente como aranha

(Quem dera)

Quem dera que o livro seja livre pra poder voar
Quem dera que o pecado não tenha poder para pecar
Quem dera que o ruim não seja tão cruel para matar
Quem dera que o amor em si consiga se proliferar
Quem dera que o bem seja tão forte pra poder amar
Quem dera que o pássaro consiga pra sempre cantar

Quem dera que a justiça seja justa quando deter
Quem dera que a paz seja tão boa pra viver
Quem dera que a criança tenha fome e possa comer
Quem dera que a guerra não seja o nosso poder
Quem dera que a terra tenha forças sempre pra beber
Quem dera que a mente seja livre pra poder correr

Quem dera que o som seja tão alto pra poder me ouvir
Quem dera que o vão seja tão grande para me encobrir
Quem dera que o pena seja plena ao me ver partir
Quem dera que o sangue seja denso quando me punir
Quem dera que o discurso seja breve quando lhe ferir
Quem dera que o corpo depois de morto ainda possa rir

Quem dera que a vida seja vivida como de uma flor
Quem dera que a beleza seja a essência de um autor
Quem dera que a poesia seja vista com mais amor
Quem dera que a raiz tenha força para se impor
Quem dera que a palavra seja algo mais libertador
Quem dera que a luz ilumine todo o nosso interior

(Capella)

Verdade que eu entenda minha dependência
Erótica e consumidora de um outro sentido
Rasga-me por fora e por dentro
Outra verdade e vontade que eu entendo
Noutra seriedade sem sentido
Indolor só para os fracos
Com atos falhos e fálicos
Atos esses apavorantes

Correr já não faz mais sentido
Andar já não basta
Revirar o inrevirável
Vertentes que me afasta
Ar de explosão
Limitação em vão
Homem feito só de carne ?
Ou não ?

Caricatura das ideias
Atravessam meu físico
Pelas meras cavernas
Eternas, invernas
Livres e externas
Lábios distantes
Amores apavorantes

(Kafkobra)

Há uma Kafkapraga na cidade
Há um Kafka medo de escuro
Há uma Kafka relação tardia
Há um Kafkacidente inseguro
Há um Kafka suicídio diário
Há uma Kafka luz na América
Há uma Kafka decisão proferida
Há uma kafkobra que voa
Há uma Kafkolônia que da pena
Há um Kafka insano processo
Há uma Kafkarta ao seu pai
Há um Kafka artista esfomeado
Há um Kafkastelo trancado
Há um Kafka Diamante Adoravél
Há uma Kafkantora muito fina
Há uma kafka razão pra tudo
Há um Kafka muito moderno
Há um Kafka nada absurdo